tag:blogger.com,1999:blog-40189858664992813012024-03-15T00:54:34.503+00:00Ladrões de BicicletasNuno teleshttp://www.blogger.com/profile/07713327330820459193noreply@blogger.comBlogger10021125tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-89396381298185936712024-03-14T17:43:00.005+00:002024-03-14T17:44:31.048+00:00Testemunho<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRLWSYfN-r1qLW1qEdOVNWFw9lF6jgwPK4yev9iHtxLBN1pyPZtlaJG7KGBsnKqPuTfjf_hIzJB4wq_-hCXcca9w_i2D3Zi1eWWRAbszbHshazeNdRHF1ZDq-y4xMcWBd3dIl5f8_Ld822hP0QrZqyfQ4f2rmnajuU8Bh_W0HZl5aidnFu-hXS7IBPnZY/s2048/GIpUUBqXUAAwI2p.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1515" data-original-width="2048" height="237" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRLWSYfN-r1qLW1qEdOVNWFw9lF6jgwPK4yev9iHtxLBN1pyPZtlaJG7KGBsnKqPuTfjf_hIzJB4wq_-hCXcca9w_i2D3Zi1eWWRAbszbHshazeNdRHF1ZDq-y4xMcWBd3dIl5f8_Ld822hP0QrZqyfQ4f2rmnajuU8Bh_W0HZl5aidnFu-hXS7IBPnZY/s320/GIpUUBqXUAAwI2p.jpeg" width="320" /></a></div><br />O meu filho nasceu em 2011, no ano inicial da agressão da troika. Ainda bebé, levei-o a manifestações desse período de luta contra a política dos vende-pátrias. Por isso, e por muito mais, estou totalmente solidário com a mãe denunciada à CPCJ por <a href="https://www.jn.pt/6868481807/psp-denuncia-a-cpcj-mae-que-participou-com-bebe-em-marcha-do-dia-da-mulher/" target="_blank">agentes da PSP</a> incompetentes, no mínimo. Espero que a mãe coragem lhes assoe o nariz. Alfredo Cunha imortalizou, em 1975, esta mãe coragem. Não temos medo, não passarão.<div><div><br /></div></div>João Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/08350939898258225737noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-30556245860809628222024-03-14T13:15:00.001+00:002024-03-14T15:57:32.876+00:00Crise do jornalismo, défice de pluralismoO Vicente Ferreira já o disse aqui, na <a href="https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2024/03/solidariedade-com-greve-de-jornalistas.html">manifestação</a> de solidariedade do Ladrões com a Greve Geral dos Jornalistas, que tem hoje lugar: «<i>a degradação da qualidade do jornalismo nos últimos tempos ocorre em simultâneo com a degradação das condições de trabalho no meio</i>». De facto, o <a href="https://pluralismonodebate.blogspot.com/">défice de pluralismo no debate</a> político e político-económico, que começou a tornar-se mais evidente e percetível na antecâmara da «vinda da troika» - mentalizando e forçando, sem contraditório, a ideia da sua virtude e inevitabilidade, junto da opinião pública - é um reflexo óbvio da crise do jornalismo, que não é de hoje.<br />
<br />
A questão é mesmo muito séria e não devia ser objeto de <a href="https://www.publico.pt/2024/03/09/opiniao/opiniao/comentadores-politicos-promiscuidade-eleitoral-2083074">desvalorizações sonsas</a>, que indiciam pretender-se apenas a manutenção do <i>status quo</i>. A ausência de pluralismo no debate, sobretudo nas televisões (mas não só), constitui um entorse grave da nossa vida democrática, ao impedir o vital confronto entre diferentes perspetivas e ao impor, pelo desequilíbrio e défice de contraditório, a prevalência de determinadas visões em detrimento de outras, condicionando e limitando seriamente a formação de opinião. A composição dos painéis de debate das últimas legislativas é só o exemplo mais recente deste inaceitável enviesamento (ver por exemplo <a href="https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2024/03/ha-um-enorme-elefante-no-meio-da-sala.html">aqui</a>, <a href="https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2024/02/tanto-faz.html">aqui</a> ou <a href="https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2024/02/sic-fox-news-portugal.html">aqui</a>).<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVaMXzPbaJjUETAmUMvy_sbHowWBZuUcvZoEkT4dSGJRtTGsuQzrnUQ_oMYqrsMUX4bpYam4UmA2sfen24OQP994rxmDq_xTKDDunp7BDJkdpxP_mzIAACMF-ejUc3cLYAUWoa-40POxgLrKl2r0lt6PnnlTdQaqOGQudUv34Kj-riKb0H1o5kjlKQy0Y/s468/pluralismo%20debate.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="426" data-original-width="468" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVaMXzPbaJjUETAmUMvy_sbHowWBZuUcvZoEkT4dSGJRtTGsuQzrnUQ_oMYqrsMUX4bpYam4UmA2sfen24OQP994rxmDq_xTKDDunp7BDJkdpxP_mzIAACMF-ejUc3cLYAUWoa-40POxgLrKl2r0lt6PnnlTdQaqOGQudUv34Kj-riKb0H1o5kjlKQy0Y/s16000/pluralismo%20debate.jpg" /></a></div>
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Não se trata apenas de «perceções», como <a href="https://www.publico.pt/2024/03/09/opiniao/opiniao/comentadores-politicos-promiscuidade-eleitoral-2083074">se pretende</a> fazer crer. Apesar da muito insuficiente monitorização, desde logo pela ERC, vão surgindo alguns dados concretos, como os recentemente divulgados pelo <a href="https://medialab.iscte-iul.pt/">MediaLab</a>, do ISCTE. Dados que evidenciam não só a prevalência da direita no comentário televisivo (ver gráfico), mas também o reforço desse desequilíbrio quando se compara o mapeamento de 2022 com o de 2016 (com os comentadores de direita a passar de 51% para 60%). Ao arrepio, como se não bastasse, da representação da esquerda e da direita no parlamento.<br />
<br />
É também por isto, pela existência de um verdadeiro pluralismo no debate e garantia de contraditório - a par das <a href="https://setentaequatro.pt/noticia/redacao-do-setenta-e-quatro-esta-em-greve">justas reivindicações</a> dos jornalistas - que a greve que hoje decorre assume a maior importância para a nossa democracia. E mais ainda quando estamos, em 2024, a celebrar os 50 anos do 25 de Abril.<br />
<br />Nuno Serrahttp://www.blogger.com/profile/02673154223996113198noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-61644416669755576222024-03-14T11:53:00.003+00:002024-03-14T12:58:48.464+00:00Resultados<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjC4o8F7cn-Rf21madwLr4EQ_vz-1fnreQuAAZY4mXJON2LNd3HMjBW5i5hmVh6SyYH6Cilkv68sVtTwGNplkciPtzFN3F6TueiyNQZZFzNAdIrVmxTAXTJFLL4acEGnzNbPIPcug_Q2fCFRULUVC7_jdEqoSv2yMk972ow0IhkLN8PxnvOWrxQ4WKPodM/s1256/Captura%20de%20ecra%CC%83%202024-03-14,%20a%CC%80s%2011.52.30.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1256" data-original-width="1150" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjC4o8F7cn-Rf21madwLr4EQ_vz-1fnreQuAAZY4mXJON2LNd3HMjBW5i5hmVh6SyYH6Cilkv68sVtTwGNplkciPtzFN3F6TueiyNQZZFzNAdIrVmxTAXTJFLL4acEGnzNbPIPcug_Q2fCFRULUVC7_jdEqoSv2yMk972ow0IhkLN8PxnvOWrxQ4WKPodM/s320/Captura%20de%20ecra%CC%83%202024-03-14,%20a%CC%80s%2011.52.30.png" width="293" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div>Sou professor auxiliar da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) desde 2014 e investigador do Centro de Estudos Sociais (CES) desde 2010. É a faculdade que me paga o salário e é no âmbito do CES que desenvolvo a minha investigação, parte dos deveres de docente universitário. <div><br /></div><div>Os investigadores do CES que são seus assalariados desempenham, no âmbito do que está estipulado nos seus contratos, funções de docência, mas só em programas doutorais das faculdades da Universidade de Coimbra, da FEUC à Faculdade de Letras. Enquanto professor, leciono a licenciaturas, mestrados e doutoramentos. </div><div><br /></div><div>Creio que este esclarecimento pessoal e institucional é útil, porque há alguma confusão por aí. </div><div><br /></div><div>Como toda a gente, tomei ontem conhecimento do <a href=" https://www.ces.uc.pt/ficheiros2/files/Relatorio%20Final%20-%20CI.pdf" target="_blank">relatório final</a>, resultado de um aturado trabalho de meses por parte da Comissão Independente, composta por pessoas reputadas exteriores ao CES. Como investigador do CES, tive a oportunidade de participar na sua apresentação e de aí intervir. Basicamente, saudei o que me pareceu ser a imparcialidade, a integridade e a sensibilidade da referida Comissão. Os seus resultados são claros. Saudei também a <a href="https://ces.uc.pt/pt/agenda-noticias/destaques/2024/carta-aberta-da-direcao-do-ces" target="_blank">Carta Aberta da Direção e da Presidência do Conselho Científico do CES</a>. </div><div><br /></div><div>As outras instituições de ciência e ensino superior devem olhar bem para a forma, exemplar e até de certa forma inédita, como a instituição está a lidar com estes “indícios de ‘padrões de conduta de abuso de poder e assédio por parte de algumas pessoas que exerciam posições superiores na hierarquia do CES’”.
Todos sabemos que todos sabemos o que anda por aí. É que a precariedade da universidade neoliberal é mais forte do que os avanços inequívocos nas questões de género. As relações de classe contam mais, afinal de contas, também para as relações de género.</div><div><br /></div>João Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/08350939898258225737noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-23582311766917354482024-03-14T08:45:00.007+00:002024-03-14T08:46:23.499+00:00Solidários<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8qjGuncbH0jkrAtR18zQI8HQQvMaD577pCCsZgcozYhU__qTi5DRVTV6mKcy3n4IHPSs1329rUBP4PFGzWqq3SG9ENuB6aR0xDKEDb4q8c77f2wNoNw3icpCcT9pJU8FlH7h86gSVFSSPpNs_VsQeekdkmZ6aJG78RyCfdrtEXwzTxVbqFHtOwJkKTWc/s2917/GIlVTOoWMAAdiVi.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2676" data-original-width="2917" height="368" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8qjGuncbH0jkrAtR18zQI8HQQvMaD577pCCsZgcozYhU__qTi5DRVTV6mKcy3n4IHPSs1329rUBP4PFGzWqq3SG9ENuB6aR0xDKEDb4q8c77f2wNoNw3icpCcT9pJU8FlH7h86gSVFSSPpNs_VsQeekdkmZ6aJG78RyCfdrtEXwzTxVbqFHtOwJkKTWc/w400-h368/GIlVTOoWMAAdiVi.png" width="400" /></a></div><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://x.com/hugovdding/status/1768038173215477884?s=20" target="_blank">Hugo van der Ding</a></div><br /><p></p>João Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/08350939898258225737noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-19911517864468603972024-03-13T19:27:00.004+00:002024-03-14T07:57:05.866+00:00Luzes e sombras<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFr0G34_Ps-EGZJlyGjh3KP4WGol9QJsWi7_Wf6C4ugZJYTsnTgVdHZu3aFjdy8P7mWWa0K3rqbuIP1TtzTnNTl4PSRet8wAHFKs9dpmWEigDID5L1njzoJPSIOpc_Reqxa_JNYPFtDV7eLjy8Ob5DW4nFpolPY6z06b7SgoZfe0q9bsXCHgyEzkQusFM/s1600/Unknown.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFr0G34_Ps-EGZJlyGjh3KP4WGol9QJsWi7_Wf6C4ugZJYTsnTgVdHZu3aFjdy8P7mWWa0K3rqbuIP1TtzTnNTl4PSRet8wAHFKs9dpmWEigDID5L1njzoJPSIOpc_Reqxa_JNYPFtDV7eLjy8Ob5DW4nFpolPY6z06b7SgoZfe0q9bsXCHgyEzkQusFM/w320-h240/Unknown.jpg" width="320" /></a></div><br />Se as direitas funcionam por incessante repetição e se têm a hegemonia, então é caso para dizer que há algo a aprender com tal modo de operar. Deve reter-se uma formulação de um estratega de George Bush, lida há uns anos na repetitiva <i>The Economist</i>, e trazida para aqui de memória: “repetir, repetir, repetir sempre, e é só quando se está farto de repetir que o público começa a prestar atenção pela primeira vez”.
<div><br /></div><div>Então aqui vai uma repetição: IL e Chega são duas faces da mesma má moeda, emitida pelas frações mais reacionárias do capital, em particular o que é grande, e colocada em circulação pelo Governo da troika, em geral, e pelo neoliberal Passos Coelho, em particular.
O fascismo chega sempre pela mão política do capital e dos seus intelectuais orgânicos bem financiados, ajudado pelas fraturas sociais geradas pelo liberalismo económico. Jaime Nogueira Pinto até é um intelectual que financia, fazendo ligações. </div><div><br /></div><div>Temos então sempre de distinguir entre a nova/velha elite da extrema-direita – Venturas, Nogueiras Pintos, Pintos Pereiras, Bonifácios, Marchis, Mithás Ribeiros (todos doutorados, note-se) – e uma massa popular variada que em certas circunstâncias a pode apoiar. A primeira combate-se sem quartel, a segunda reconquista-se. Está distinção luminosa, oriunda da tradição antifascista, passou, e com distinção, vários testes da história mais negra.</div><div><br /></div>João Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/08350939898258225737noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-47847477205927212932024-03-13T08:10:00.005+00:002024-03-13T18:26:06.327+00:00Solidariedade com a greve de jornalistas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizOTLUxTpME-RQvi65A5F0wfXtIsxdVYi62-y7kQzLkg9VtaIrpyQsz2vsfPJLGSKZ_Ca0NBwV0c4BaBRpF7tqi5Ajo-tAO3cYS9rz-qfpbpZ-QzWV5YuYkVvcQDfJpSokM5GQdfMDcbmN54u_mDZ9CBoVYPHR_83SCvGoPt3myZUSidyB-l0RoIHt5bs/s1350/greve%20jornalistas.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1350" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizOTLUxTpME-RQvi65A5F0wfXtIsxdVYi62-y7kQzLkg9VtaIrpyQsz2vsfPJLGSKZ_Ca0NBwV0c4BaBRpF7tqi5Ajo-tAO3cYS9rz-qfpbpZ-QzWV5YuYkVvcQDfJpSokM5GQdfMDcbmN54u_mDZ9CBoVYPHR_83SCvGoPt3myZUSidyB-l0RoIHt5bs/s320/greve%20jornalistas.jpeg" width="256" /></a></div>
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Pela primeira vez em 40 anos, as e os jornalistas farão <a href="https://jornalistas.eu/category/arquivo/greves/" target="_blank">greve</a> amanhã. Não faltam <a href="https://www.publico.pt/2024/03/12/opiniao/opiniao/greve-geral-jornalistas-necessidade-democratica-2083321" target="_blank">motivos</a> para essa mobilização. A degradação da qualidade do jornalismo nos últimos tempos ocorre em simultâneo com a degradação das condições de trabalho no meio: cerca de um terço dos jornalistas recebe entre €701 e €1000 líquidos por mês, metade diz sentir-se inseguro com a sua condição laboral e há registo de elevados níveis de esgotamento. Como em tantos outros setores, a precariedade e os baixos salários minam a qualidade do jornalismo, colocando em causa as suas funções de informação e escrutínio rigorosos, indispensáveis à democracia.<br />
<br />
No site do Sindicato dos Jornalistas, pode ler-se o <a href="https://jornalistas.eu/esta-na-hora-de-parar-junta-te-a-greve-geral-de-jornalistas-de-14-de-marco/" target="_blank">apelo</a> à mobilização:<br />
<br /><i>«Há mais de 40 anos que não fazemos greve. Nestas quatro décadas, perdemos direitos, perdemos espaço, perdemos autonomia. Há um momento em que temos de fincar o pé. Esse momento chegou. É aqui e agora. A 14 de março, paramos. Junta-te à greve!</i><br />
<br />
<i>Exigimos condições salariais e editoriais, contratos de trabalho estáveis, o aumento geral dos salários e o pagamento digno das horas extraordinárias e das compensações por penosidade: trabalho noturno, fins de semana, subsídio por isenção de horário. O mínimo é que nos paguem de forma digna para exercer uma profissão que não tem hora marcada. Por mais que se goste do que se faz, o romantismo não paga contas.</i><br />
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<i>Exigimos ainda intervenção pública. Portugal não pode manter-se como a exceção europeia em que o Estado nada faz pela sustentabilidade do jornalismo, nada contribui para a pluralidade democrática. </i><i>Exigimos que o Estado assuma as suas responsabilidades, faça condizer o seu investimento com a importância da informação como bem público constitucionalmente consagrado.»</i><br />
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O Ladrões de Bicicletas solidariza-se com esta greve por jornalistas livres em defesa da democracia.<br />
<br />Vicente Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/09694107312143309091noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-51612472765629228282024-03-12T17:37:00.002+00:002024-03-12T17:53:27.647+00:00Amarrações<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUsbg4KJk9x4btmbhhLdBDbAjkTQh4TofAH_nK11zeY9f8rYay5GmT2-uyOhGIsvpr92B_wsW9evfJ1oq2Kgre5vNJk2erwazvelxc0G4IKp82NtudgxlRvXz98sbwRHFGTmxqxpFkjqtXwAtQrmNsCJTPtzZz4qBSD5U3W39AX4w8JpyZ638gDQKPFLg/s405/empres%C3%A1rios.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="178" data-original-width="405" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUsbg4KJk9x4btmbhhLdBDbAjkTQh4TofAH_nK11zeY9f8rYay5GmT2-uyOhGIsvpr92B_wsW9evfJ1oq2Kgre5vNJk2erwazvelxc0G4IKp82NtudgxlRvXz98sbwRHFGTmxqxpFkjqtXwAtQrmNsCJTPtzZz4qBSD5U3W39AX4w8JpyZ638gDQKPFLg/s16000/empres%C3%A1rios.jpg" /></a></div>
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Pedir ao PS que viabilize a governação de direita faz hoje tanto sentido como ter pedido, durante a campanha, aos liberais do PSD e da IL que abdicassem dos seus programas e votassem PS, para defender o Estado Social e não se perder a estabilidade política de que o país dispunha.<br />
<br />Nuno Serrahttp://www.blogger.com/profile/02673154223996113198noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-68963576243347319912024-03-12T16:57:00.003+00:002024-03-12T17:36:42.824+00:00O Chega cresceu porque somos um país racista?É errado associar aos resultados obtidos pelo Chega um significado racista, como sugere o gráfico de um <a href="https://www.publico.pt/2017/09/02/sociedade/entrevista/portugal-e-dos-paises-da-europa-que-mais-manifesta-racismo-1783934">inquérito</a> que circula por aí, e a que cheguei através de <a href="https://twitter.com/pedro_sales/status/1767151447064387964">Pedro Sales</a>, nos termos do qual cerca de 53% dos portugueses acreditam que há «<i>raças ou grupos étnicos que nasceram menos inteligentes e/ou menos trabalhadores</i>» (racismo biológico), e cerca de 54% acreditam que «<i>há culturas muito melhores que outras</i>» (racismo cultural).<br />
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Se assim fosse, importaria desde logo perguntar porque razão o Chega obteve uma percentagem de apenas 7% há dois anos atrás, nas Legislativas de 2022, tendo agora disparado para 18%, quadriplicando a sua representação parlamentar. Ou perguntar, também, porque é que, se somos um país de racistas, os partidos de extrema-direita (como o PNR/Ergue-te), nunca conseguiram eleger nenhum deputado, sendo a sua votação sistematicamente inexpressiva em 50 anos de democracia.<br />
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Em segundo lugar, como poderíamos conciliar essa ideia de «Portugal, país racista», com diversos indicadores que nos destacam, à escala europeia e não só, como um dos países mais recetivos à imigração, como demonstra, em termos comparativos, a baixa percentagem de população que a considera um problema, em contraste com a população que a encara como uma oportunidade?<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgICXcGxtdMTqi_OuZ-xF4se3yB3GJw8bkR7BeUA0cJLCs4qRtLQ0bTE3tyrGUhIpU9iwjK3HGxNnBP1YrtEoqJ0OR6Nf_qCE3kssVwYe9Ff9DP1uDfBuUfTFvBhsPk5Z6IAJyXj8qFc34adGj82ZdgOBRSw2Qo43z_pM-eO8fcTpNPT-X8SJORr448AM8/s549/migra%C3%A7%C3%B5es.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="497" data-original-width="549" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgICXcGxtdMTqi_OuZ-xF4se3yB3GJw8bkR7BeUA0cJLCs4qRtLQ0bTE3tyrGUhIpU9iwjK3HGxNnBP1YrtEoqJ0OR6Nf_qCE3kssVwYe9Ff9DP1uDfBuUfTFvBhsPk5Z6IAJyXj8qFc34adGj82ZdgOBRSw2Qo43z_pM-eO8fcTpNPT-X8SJORr448AM8/s16000/migra%C3%A7%C3%B5es.jpg" /></a></div>
<br />
Não descurando que o discurso do Chega é atrativo para o residual eleitorado xenófobo e saudosista do Estado Novo (sempre o foi), nem o recurso às novas formas de comunicação de massas - que o Chega manipula de forma exímia -, ou a ajuda que «<i>chega sempre pela mão do capital e dos seus intelectuais orgânicos bem financiados</i>», a que o João Rodrigues <a href="https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2024/03/por-arrasto.html">aqui</a> se referiu, é no «<a href="https://expresso.pt/politica/2024-03-11-Ferro-Rodrigues-desaconselha-Marcelo-a-pensar-em-eleicoes-Combater-a-extrema-direita-nao-se-faz-em-poucos-meses-ccb39fea?_gl=1*1jw7kjd*_ga*QUt3am5lcGZGUzB6YllBR2wtY19ySGN2aC12ZnYyblB2VVVqNEFFWUQ5Ml9YZF9QbTRmMEh4dmRhNUlHQ25lbQ..">descontentamento</a>» que encontramos a explicação mais plausível para a subida vertiginosa do partido de André Ventura no passado domingo. Porque não há, de facto, «<i>18% de votantes racistas ou xenófobos em Portugal</i>», como assinalou <a href="https://www.dnoticias.pt/2024/3/11/397347-pedro-nuno-santos-promete-renovar-ps-e-recuperar-eleitorado-zangado-com-os-socialistas/">Pedro Nuno Santos</a> no rescaldo da noite eleitoral.<br />
<br />Nuno Serrahttp://www.blogger.com/profile/02673154223996113198noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-778551753149285672024-03-12T08:43:00.011+00:002024-03-12T08:49:30.503+00:00Por arrasto<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQ8LsSBOmYOfqtcBYvPKGuwxv1EsiaUhgtQNPBdxYaw-8SGlBcY_UUWTkOpZKacVMDGVqqVHTB0tBpNk2C8Ib3FChGRhAhPkXOAiTN0kAEFcBQkgy5e2sttL4YRYhDcqnQ6L5jm1c3ixbnlznIqrmXX9Orun6fePgS-9NxMygUqN4GPFGh9NNM4TqFO4A/s892/Captura%20de%20ecra%CC%83%202024-03-12,%20a%CC%80s%2008.47.59.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="674" data-original-width="892" height="242" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQ8LsSBOmYOfqtcBYvPKGuwxv1EsiaUhgtQNPBdxYaw-8SGlBcY_UUWTkOpZKacVMDGVqqVHTB0tBpNk2C8Ib3FChGRhAhPkXOAiTN0kAEFcBQkgy5e2sttL4YRYhDcqnQ6L5jm1c3ixbnlznIqrmXX9Orun6fePgS-9NxMygUqN4GPFGh9NNM4TqFO4A/s320/Captura%20de%20ecra%CC%83%202024-03-12,%20a%CC%80s%2008.47.59.png" width="320" /></a></div><br />Em artigo do mês passado no <i style="text-align: left;"><a href="https://pt.mondediplo.com/2024/02/o-fascismo-vem-por-arrasto.html" target="_blank">Le Monde diplomatique - edição portuguesa</a></i><span style="text-align: left;"> defendi que o fascismo que vem por arrasto é objetivamente ajudado por camadas nada negligenciáveis da intelectualidade de esquerda, colonizadas por pelo menos duas hipóteses histórico-filosóficas liberais. </span><div><span style="text-align: left;"><br /></span></div><div><span style="text-align: left;">Em primeiro lugar, o pessimismo antropológico performativo, criador da sua própria realidade, sobre as motivações e capacidades cognitivas dúbias das classes populares, consideradas sempre prontas a apoiar os populismos das direitas extremas. Na verdade, o fascismo chega sempre pela mão do capital e dos seus intelectuais orgânicos bem financiados. </span></div><div><span style="text-align: left;"><br /></span></div><div><span style="text-align: left;">Em segundo lugar, e de forma mais indireta, a hipótese da ferradura, uma visão histórica distorcida: à noite, o mocho de Minerva não levanta voo e todos os “extremismos” são pardos e igualmente “totalitários”.</span><div><br /></div><div>Com 48 cadeiras ocupadas por fascistas na AR, para 48 anos de ditadura, estas duas hipóteses vão provavelmente difundir-se ainda mais. Já há idiotas úteis a apodar o povo de estúpido e de racista, merecedor de sessões de reeducação; ou a dizer que houve sobretudo transferências de votos, que nenhuma análise séria autoriza, dos comunistas, condição necessária de um antifascismo intelectual e politicamente sério, para os fascistas. </div><div><br /></div><div>A nossa intelectualidade euroliberal mais ou menos televisionada, sobretudo a que se diz de esquerda, é parte do problema. Francamente, prefiro ler os intelectuais assumidamente reacionários. Pelos menos, esses defendem interesses e valores com clareza.</div><div><br /></div></div>João Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/08350939898258225737noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-76191117039407724062024-03-11T16:45:00.003+00:002024-03-11T16:45:57.779+00:00O elefante começou a partir loiçaMedina disse ontem que o Ch*ga não tem capacidade de resolver problemas concretos das pessoas. Verdade. Já ele e os seus antecessores do PS, com as suas <a href="https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2021/10/como-nao-se-levanta-um-estado-ou-da.html" target="_blank">contas alegadamente certas</a>, criando problemas de todo o género às pessoas e às pequenas e médias empresas, tiveram a arte de alienar apoio popular e facilitar o crescimento da extrema-direita. <div><br /></div><div>A verdade é que as contas certas são um logro que não resiste sequer a uma mera análise de contabilidade nacional. Os superávites do setor público não podem deixar de ser os défices do setor privado e vice-versa.</div><div> </div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg0I6wKDV-s6bDDulTyoU1rqXEyj4NXQOgH_eBt5Nq9t0adrfsgA0iQcEUAO2eSz55vT7C0LC4aTYQ6gOMXMpL42SYT3OCIenJv-6TkMZ2a5gUOrPjGcN7U2rPegloRyaKpUJeJ6kZ_8zEVtSaA7HETQ4KRK-e5vGJLijVV3eDpCsxB345M87xpXB6BCqo" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="422" data-original-width="904" height="298" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg0I6wKDV-s6bDDulTyoU1rqXEyj4NXQOgH_eBt5Nq9t0adrfsgA0iQcEUAO2eSz55vT7C0LC4aTYQ6gOMXMpL42SYT3OCIenJv-6TkMZ2a5gUOrPjGcN7U2rPegloRyaKpUJeJ6kZ_8zEVtSaA7HETQ4KRK-e5vGJLijVV3eDpCsxB345M87xpXB6BCqo=w640-h298" width="640" /></a></div></div><div><br /></div><div>Não menos verdade, contudo, é que a capacidade para criar ou resolver problemas às pessoas <a href="http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2023/06/plena-discricionariedade-ou-do.html" target="_blank">não está essencialmente nas mãos dos governos</a>, sobretudo os das periferias, mas sim nas instituições europeias e sobretudo no BCE. </div><div><br /></div><div>Repare-se, por exemplo, que, com maior ou <a href="http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2024/01/para-alem-da-controversia-fabricada-os.html" target="_blank">menor intuito</a> de o tentar, todos os partidos afirmaram no período eleitoral querer subir salários, mas a verdade é que o BCE não o permitiria. E só um partido colocou no seu programa o euro como constrangimento, infelizmente sem a ancoragem que o assunto merece. </div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjnGab3kyEzTc0oBR1kfG-NcBEE0-YjTdoXZu07Asgy6aXmv2sdHpGr5RBxSMWidAAf20LdivEg7E4XlaSwq8tWJl-jeGj7USGtxeEQLbnG4qz09miC-qPIbdgBtKHugbgTUMO6Sz9eNkQLWeCGEJJugS8BzFTGB003hLKwPTySPeIur0TZKegD13OczoQ" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="594" data-original-width="448" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjnGab3kyEzTc0oBR1kfG-NcBEE0-YjTdoXZu07Asgy6aXmv2sdHpGr5RBxSMWidAAf20LdivEg7E4XlaSwq8tWJl-jeGj7USGtxeEQLbnG4qz09miC-qPIbdgBtKHugbgTUMO6Sz9eNkQLWeCGEJJugS8BzFTGB003hLKwPTySPeIur0TZKegD13OczoQ=w302-h400" width="302" /></a></div></div><div><br /></div><div>Também verdade é que esta abordagem das contas alegadamente certas tornou todos, <a href="https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2024/03/prejuizos-dos-bancos-centrais-sao-os.html" target="_blank">excepto os bancos</a>, mais pobres. </div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhREOdm17WOf4nagV0FHjLgIYmzSW1Wt_7rICKRZRGDDV26FlpwJ5miMV-ejDWuoOb0tmlCMjGfyqAP5XzIgL28A-c2WUDPHzr2jSsVeu3KUoudbYSqXSfUHKKzeqcvlJIxNwnIbPcgt-3vTd_e0h2To1AI622X9vxHe4sz1sVWStMd-rYsEfBlbcILj1A" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="448" data-original-width="904" height="318" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhREOdm17WOf4nagV0FHjLgIYmzSW1Wt_7rICKRZRGDDV26FlpwJ5miMV-ejDWuoOb0tmlCMjGfyqAP5XzIgL28A-c2WUDPHzr2jSsVeu3KUoudbYSqXSfUHKKzeqcvlJIxNwnIbPcgt-3vTd_e0h2To1AI622X9vxHe4sz1sVWStMd-rYsEfBlbcILj1A=w640-h318" width="640" /></a></div></div><div><br /></div><div>O país não precisa de contas certas, mas de <a href="http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2021/10/notas-de-mmt-para-uma-politica.html" target="_blank">contas funcionais</a>. </div><div><br /></div><div>Contas que funcionem para quem trabalha e para as empresas que beneficiam deste trabalho.
</div><div><br /></div>Paulo Coimbrahttp://www.blogger.com/profile/09830008259099243996noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-36430240931294233122024-03-11T11:22:00.004+00:002024-03-11T17:36:22.358+00:00Os monstros não nascem de geração espontâneaAssistimos nos últimos anos a um aumento sem precedentes da agressividade e da desinformação no debate político, tendo as redes sociais como principal veículo. Adoptando estratégias semelhantes às que conduziram Trump e Bolsonaro ao poder, novos actores políticos – com destaque para o Chega e a IL – tornaram-se líderes das redes sociais, com dezenas de milhares de contas, reais e fictícias, a alimentar “gostos”, “partilhas” e “comentários”. Entre as camadas mais jovens, o Instagram, o Twitter/X e o TikTok tornaram-se as principais fontes de “informação”. Nesses meios, o debate político faz-se mais com dados parciais e distorcidos, do que com rigor e confronto honesto de ideias. O objectivo era alimentar a indignação, mais ou menos justificada, direccionando-a contra os adversários políticos, em particular o PS.<div><br /></div><div>O sucesso dos novos actores nesta nova era da crispação política não se deve apenas ao seu despudor e criatividade. Deve-se também aos apoios financeiros que recebem. Apesar de terem estruturas partidárias modestas, Chega e IL mobilizam recursos próprios (isto é, excluindo a subvenção estatal) que excedem em muito os dos partidos maiores. Segundo o próprio Chega, mais de metade das suas receitas de campanha (400 mil euros) têm origem em doações, um valor sem paralelo no quadro partidário português. No caso da IL, boa parte da propaganda liberal nas redes é deixada a cargo do Instituto +Liberdade, que recebe por ano acima de 500 mil euros em donativos.<div><br /></div><div>A generosidade com que pessoas e instituições endinheiradas financiam organizações políticas que apostam na crispação, sugere que uma parte dos ricos em Portugal já não tolera as opções de quem governou o país nos últimos anos, por muito moderadas que fossem. Não há aqui nada de novo: quando acham que a democracia lhes retira privilégios – sob a forma de impostos ou de direitos laborais que consideram excessivos –, alguns poderosos financiam o caos, dando poder a quem oferece ordem e “moderação”. Esperam com isso manter os seus benefícios. O problema, como a história mostrou muitas vezes, é que se arriscam a perder o controlo sobre o monstro que criaram.</div><div><br /></div><div>O resto do meu texto pode ser lido no <a href="https://www.publico.pt/2024/03/10/opiniao/opiniao/crises-instabilidade-crispacao-origens-quebra-ps-2083187">Público de hoje</a>, em papel ou online.</div></div><div><br /></div>Ricardo Paes Mamedehttp://www.blogger.com/profile/00775556293369224884noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-25673815839583701372024-03-11T08:31:00.014+00:002024-03-11T17:37:21.348+00:00Precisamos de refletir<b><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBN9RhU6ID2FKe_epjYervCZPnbvfj0a63KYKUNFMWu64kuqCH6S20NLDmaQ4vKfQR9bVJe5pHGb5R2WXOhumaNBWK00NKiWxH8YC09BmCqi-Lvj9OSH-Drv9McrY662GHdRExFTorZU7mZ6xBCyNwgrY6PmrgeRW54HGV7-nHwCDCX4INrjpzhz6ukDo/s1198/Captura%20de%20ecra%CC%83%202024-03-11,%20a%CC%80s%2008.12.29.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="842" data-original-width="1198" height="281" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBN9RhU6ID2FKe_epjYervCZPnbvfj0a63KYKUNFMWu64kuqCH6S20NLDmaQ4vKfQR9bVJe5pHGb5R2WXOhumaNBWK00NKiWxH8YC09BmCqi-Lvj9OSH-Drv9McrY662GHdRExFTorZU7mZ6xBCyNwgrY6PmrgeRW54HGV7-nHwCDCX4INrjpzhz6ukDo/w400-h281/Captura%20de%20ecra%CC%83%202024-03-11,%20a%CC%80s%2008.12.29.png" width="400" /></a></div><br />1.</b> Precisamos de humor e de ironia que corroam sistemas: daquela “<a href="https://setentaequatro.pt/cronica/o-professor-marcelo-o-escorpiao" target="_blank">equipa fantástica</a>” fizeram parte as sociedades indigentes de comunicação, as que promoveram a extrema-direita, subproduto do neoliberalismo, sem o qual de resto nunca teriam existido. <div><br /></div><div><b>2. </b>Precisamos de ter os olhos bem abertos: sociedades indigentes há muitas e os milionários, alimentados por uma forma de economia política <a href="https://setentaequatro.pt/cronica/viragem-para-direita" target="_blank">neoliberal</a> com décadas, têm cada vez maior capacidade de converter dinheiro em poder político, pagando “stink-thanks”, financiando as direitas cada vez mais extremadas, controlando cada vez mais aparelhos ideológicos. </div><div><br /></div><div><b>3. </b>Precisamos de cultura com fôlego, como no <a href="https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2018/11/antifascismo-militante.html" target="_blank">antifascismo</a> histórico, que “ganhe raízes no solo pátrio”, que imagine com luminosidade uma comunidade e o seu povo, que ame essa comunidade e o seu povo solar. </div><div><br /></div><div><b>4. </b>Precisamos de economia política que vá à raiz, que parta do Algarve e que suba por aí acima, que exponha um modelo de desenvolvimento do subdesenvolvimento e o seu círculo vicioso: baixa pressão salarial e austeridade, subinvestimento modernizador, alimentação de fluxos migratórios súbitos, serviços públicos subfinanciados e sobrecarregados, rentismo fundiário e <a href="https://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/detalhe/eacute_o_tempo_da_corrupccedilatildeo_geral" target="_blank">corrupção</a>, ascensão da extrema-direita. </div><div><br /></div><div><b>5. </b>Precisamos de economia moral, ponto de intersecção da tal cultura com fôlego e da economia política radical, ou seja, de um modelo de desenvolvimento, feito por propostas de política, por instrumentos de política soberana a resgatar, que dêem os toques certos e com impactos sistémicos, contando uma história moral de um país plausível. </div><div><br /></div><div><b>6. </b>Precisamos de mais e melhor organização, do YouTube ao sindicato, feita por <a href="https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2023/09/ativista-ou-militante.html" target="_blank">militantes</a>, ao invés de ativistas, solidária e acolhedora, sabendo sempre que as pessoas só se mobilizam por uma certa ideia esperançosa de Portugal.
</div><div><br /></div>João Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/08350939898258225737noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-72131687101474268162024-03-10T19:02:00.003+00:002024-03-11T19:20:43.719+00:00Em dia de reflexão<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwo1xI50vK5OlVC6S5BfJYR5_waQbicG-yUN_E7bFv50F6eD_iz-UtjH3bCS3Sz13KnoY4MB77K_ClYlXD9wHx7zWN7d9pWsxqwzOTpSkLNeafSBOO_l9O1FhmxFq9ZEA8-KZVFdZbfCax3RkTSOBtTO8i5-TnT69Ma3EqiMx4mAaii8UJyF1ivZxSClg/s1920/marcelo%20pr.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1920" data-original-width="1457" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwo1xI50vK5OlVC6S5BfJYR5_waQbicG-yUN_E7bFv50F6eD_iz-UtjH3bCS3Sz13KnoY4MB77K_ClYlXD9wHx7zWN7d9pWsxqwzOTpSkLNeafSBOO_l9O1FhmxFq9ZEA8-KZVFdZbfCax3RkTSOBtTO8i5-TnT69Ma3EqiMx4mAaii8UJyF1ivZxSClg/w152-h200/marcelo%20pr.jpg" width="152" /></a></div>
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Foi interessante, intrigante até, o discurso de ontem do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em dia de reflexão. Sobretudo a parte em que fala do «<a href="https://expresso.pt/politica/eleicoes/legislativas-2024/2024-03-09-Em-2024-fecha-se-um-ciclo-da-nossa-Historia-e-abre-se-outro-diz-Marcelo.-PR-apela-ao-voto-porque-tempos-sao-muito-dificeis-la-fora-2af2e3e2">fim de ciclo</a>» a propósito da comemoração dos 50 anos do 25 de Abril. «<i>Fecha-se um ciclo de meio século da nossa história, e abre-se outro</i>», disse Marcelo, em dia de reflexão.<br />
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Só foi pena que não tivesse desenvolvido mais esta tese, pois deixa muitas perguntas em aberto. Porque é que, por exemplo, o primeiro ciclo do 25 de Abril se fecha aos 50 anos e não aos 45 ou 60 anos após 1974? É uma espécie de duração natural dos ciclos, instrínseca, que se cumpre? E o que diferencia o primeiro ciclo, que agora termina - assegurou-nos o Presidente da República em dia de reflexão - do segundo ciclo que agora começa? O que muda, o que distingue estes dois ciclos? Este segundo ciclo, também terá 50 anos, como o primeiro? Última questão: porque será que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, não guardou esta reflexão para o seu discurso no dia 25 de Abril de 2024, preferindo partilhá-la a 9 de março de 2024, dia de reflexão?<br />
<br />Nuno Serrahttp://www.blogger.com/profile/02673154223996113198noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-47224309088095846532024-03-10T16:05:00.014+00:002024-03-11T17:39:06.501+00:00Há progresso nas mesas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjL1mtxzkRBijg9lWh0kh9Xi9Zq58TSOauwlGv-l6pF1zKSQmqKOHs1zioDfjaGQG7FSMf_Elipj0WLoreKdomWVaPiGt2lwf6sqUNYLuqQlpUSFcP1rwMqLpxSUdtupss2gZiiJhumLEtXm6kpRjomJ1X8n_LEoblgIE6Wfy_Dq1BxmwKGF3CbYNsOfs8/s2048/Unknown.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2048" data-original-width="1898" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjL1mtxzkRBijg9lWh0kh9Xi9Zq58TSOauwlGv-l6pF1zKSQmqKOHs1zioDfjaGQG7FSMf_Elipj0WLoreKdomWVaPiGt2lwf6sqUNYLuqQlpUSFcP1rwMqLpxSUdtupss2gZiiJhumLEtXm6kpRjomJ1X8n_LEoblgIE6Wfy_Dq1BxmwKGF3CbYNsOfs8/s320/Unknown.jpg" width="297" /></a></div><br />Fui votar ao fim de almoço, da mesa farta da minha mãe para a mesa de voto, uma boa afluência. Lá estavam as cidadãs e os cidadãos nas mesas, cumprindo o seu dever cívico, garantindo a integridade do processo eleitoral. Vim da mesa de voto para a mesa de trabalho. Enquanto aguardo, tento combater a ansiedade, também através da escrita. <div><br /></div><div>Tenho ao meu lado o <i>Público</i> em papel de ontem, com o <a href="http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2024/03/refletir-em-tempos-de-guerra-e-paz.html" target="_blank">artigo</a> de Pacheco Pereira, que tanto me encanitou. Pereira tem o condão da interpelação, para o pior e para o melhor. Admiro-o sobretudo pela monumental biografia de Álvaro Cunhal, um notável contributo, ainda em construção, para a cultura histórico-política nacional. </div><div><br /></div><div>Por falar em Cunhal, que dizer do trabalho, tão metódico quanto militante, de Francisco Melo na edição das suas obras escolhidas, que já vão no sétimo volume? Outro grande contributo cultural, este menos visível, infelizmente. </div><div><br /></div><div>Menos visível é também o trabalho de um dos nossos maiores, José Barata-Moura. Começou, no quadro de um coletivo, a traduzir <i>O Capital</i> – o primeiro tomo do livro primeiro saiu em 1990 – e acabou sozinho a traduzir o oitavo tomo, livro terceiro, que saiu em 2017. Pelo meio, está um trabalho monumental.
</div><div><br /></div><div>Barata-Moura é um dos maiores, porque vai de Hegel ao Fungagá da Bicharada. Temos uma dívida imensa para com a sua criatividade militante, a sua cultura integral. A nossa elite do atraso não reconhece os contributos da cultura marxista e é só por isso que não recebeu distinções merecidas, como o Prémio Pessoa. O mesmo se passa com Fernando Rosas, o nosso principal historiador do fascismo. Neste caso, preferiram dar o prémio a Irene Pimentel, menos relevante, mas mais conforme ao consenso. A cultura marxista é, também em Portugal, uma “cultura marrana”, para usar os termos do historiador Enzo Traverso. </div><div><br /></div><div>Isto não quer dizer que não haja reconhecimentos justos, através do Prémio Pessoa. Atente-se em Frederico Lourenço da Universidade de Coimbra, por exemplo. Se mais não houvesse e há muito mais, só a tradução da Bíblia, em especial dos quatro Evangelhos, bastava-me. Foi o que li até agora deste trabalho de amor. </div><div><br /></div><div>Regresso a Pacheco Pereira. Estes exemplos de investigação, tradução e edição bastariam para dizermos: há progresso cultural em matéria de livros e de leituras. Não percamos a esperança ou a fé e, já agora, a caridade.</div><div><br /></div>João Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/08350939898258225737noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-56814463074982335962024-03-09T23:09:00.005+00:002024-03-09T23:09:51.623+00:00Visto no dia de reflexão...<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiALYsiIQwXNWaK3ttQeYgJDPoHdEZc9Gzs3N9fwjAVazm5Wj_LzEhmMlaAWs_SZhTH0pjRSjWqDvjGIe5MtYUaqHOTv0gA3J6nEsp4nRw67CFEyoDe5VZ-CdHfuRky6vJeiSG2lDloK8puGwUfFhyphenhyphenXDZvDLDuSWWyj2EfXQfYoXHANxoSV7LRJGIHtMk/s1833/GIQIkgZXUAAzq-K.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1726" data-original-width="1833" height="301" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiALYsiIQwXNWaK3ttQeYgJDPoHdEZc9Gzs3N9fwjAVazm5Wj_LzEhmMlaAWs_SZhTH0pjRSjWqDvjGIe5MtYUaqHOTv0gA3J6nEsp4nRw67CFEyoDe5VZ-CdHfuRky6vJeiSG2lDloK8puGwUfFhyphenhyphenXDZvDLDuSWWyj2EfXQfYoXHANxoSV7LRJGIHtMk/s320/GIQIkgZXUAAzq-K.jpeg" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">...na António José de Almeida, em Coimbra.</div><br /><p></p>João Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/08350939898258225737noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-59089136276294156332024-03-09T14:25:00.016+00:002024-03-09T14:53:57.242+00:00Refletir em tempos de guerra e paz<i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-EHrgAz0UZcNh8jEcsmf3_CBFvGIcWHYu7xjHJA3vMCT1KBmnHfUnAgfU2D-DQbRAN38nzjC7NlecmjbF51tYprTgkEG_o6CcGo0mBCd3GMwGoJyFnFqhDqv6CcDq4YskvOo9x_21DpUAAl6vE0GcMDjFAOYwfIoIfpP5rcASh3VXWGgO0zeuknE0YNo/s613/01420001_Guerra_Paz_Volume_1_1024x1024.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="613" data-original-width="400" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-EHrgAz0UZcNh8jEcsmf3_CBFvGIcWHYu7xjHJA3vMCT1KBmnHfUnAgfU2D-DQbRAN38nzjC7NlecmjbF51tYprTgkEG_o6CcGo0mBCd3GMwGoJyFnFqhDqv6CcDq4YskvOo9x_21DpUAAl6vE0GcMDjFAOYwfIoIfpP5rcASh3VXWGgO0zeuknE0YNo/w261-h400/01420001_Guerra_Paz_Volume_1_1024x1024.jpg" width="261" /></a></div><br />Sugiro assim, neste dia de forçado silêncio sobre o destino da pátria, uma plebeia reflexão, combinando Homero com uma música viral: "Olarilolé/ Olarilolei/ Ler assim sabe tão bem”…
</i><div><i><br /></i></div><div><a href="https://www.publico.pt/2024/03/09/opiniao/opiniao/ler-conta-liberdade-2083066" target="_blank">Pacheco Pereira</a> acaba bem o seu artigo. O problema é o resto, aquele discurso mais ou menos decadentista sobre o país das redes sociais, velha pecha de articulista de uma certa geração e orientação elitista liberal, que anda, neste campo, a confundir género humano com Manuel Germano, como diria o grande Mário de Carvalho. Hoje, lê-se mais do que nunca, note-se. E lê-se de tudo, do bom e do mau, como sempre. </div><div><br /></div><div>Pereira refere a <i>Guerra e Paz</i>. Quando a li na adolescência, estava disponível uma edição miserável da Europa-América. Hoje, temos a edição da Presença, traduzida diretamente do russo por Nina Guerra e Filipe Guerra. E vende e é lida. No outro dia, vi uma aluna a lê-la. </div><div><br /></div><div>Sim, as boas alunas nas universidades lêem e muito. Sim, os bons alunos são melhores do que éramos no meu tempo, ainda me lembro. Os maus são maus, como sempre foram, certa e infelizmente. O desvio padrão é maior, talvez. Há muito a fazer. Mas a massificação, a democratização ainda incompleta, tem operado magias na educação, na cultura e na ciência em Portugal. Não duvidemos disso nem por um segundo.</div><div><br /></div><div>Que não haja qualquer saudade do passado nestas áreas.</div><div><br /></div>João Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/08350939898258225737noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-35303489174018803732024-03-09T08:42:00.007+00:002024-03-09T08:42:57.632+00:00Reflitamos, então <p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg60XsGJxeEc6DNkk5QFne7YvFvxcEeoWUfIqbO46E9pxe19gbtJuYKWF209Qvp1YfCEJ0OOpemG25PfFLZoDn-t_VvRGRfy7Eq7Rk7QGHffdNXy7xuEOjwYkUWc5ZRtckYVT-oXPoAl8VR1NWCRp8oPHaGudhBOJSvY6jICV5ncwajKXexga7pFlUUjTk/s720/52505246812_16f364c416_c.jpg.webp" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="720" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg60XsGJxeEc6DNkk5QFne7YvFvxcEeoWUfIqbO46E9pxe19gbtJuYKWF209Qvp1YfCEJ0OOpemG25PfFLZoDn-t_VvRGRfy7Eq7Rk7QGHffdNXy7xuEOjwYkUWc5ZRtckYVT-oXPoAl8VR1NWCRp8oPHaGudhBOJSvY6jICV5ncwajKXexga7pFlUUjTk/w400-h266/52505246812_16f364c416_c.jpg.webp" width="400" /></a></div><br /><p></p>João Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/08350939898258225737noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-60857736371840624242024-03-08T16:28:00.004+00:002024-03-08T16:28:59.353+00:00Que força é essa amiga<div style="text-align: center;"><iframe frameborder="0" height="270" src="https://youtube.com/embed/Xrx9sDyPr64?si=FI3C9pzt9CP2oZ2K" width="480"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br /></div>Paulo Coimbrahttp://www.blogger.com/profile/09830008259099243996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-16975242881641872492024-03-08T16:19:00.003+00:002024-03-08T16:27:16.780+00:00A luta continua<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwBwoTR8IPqmNTqLnqrPnBeirv4SosSfrhlI96oaaup30nGEiphlwTXXO76OgytAGpC70aFM1686UcCEa3k1iwQZkLIUcg_s6fyWJoPJaVVyLsFx9OibR_LJ6yy7mj_Hi_ahY2-ZBOvdBpgHYDSQaWaYqcNPrRkSoSs8r12As9qX4Wd6OmZWOvEkdPoKs/s1410/Captura%20de%20ecra%CC%83%202024-03-08,%20a%CC%80s%2014.33.27.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="732" data-original-width="1410" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwBwoTR8IPqmNTqLnqrPnBeirv4SosSfrhlI96oaaup30nGEiphlwTXXO76OgytAGpC70aFM1686UcCEa3k1iwQZkLIUcg_s6fyWJoPJaVVyLsFx9OibR_LJ6yy7mj_Hi_ahY2-ZBOvdBpgHYDSQaWaYqcNPrRkSoSs8r12As9qX4Wd6OmZWOvEkdPoKs/s320/Captura%20de%20ecra%CC%83%202024-03-08,%20a%CC%80s%2014.33.27.png" width="320" /></a></div><br />Comecei a campanha a tirar uma <a href="https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2024/01/notas-pessoais-de-dias-coletivos.html" target="_blank">fotografia</a> com Vanda Pereira, num centro onde se trabalhou muito nestas semanas, e termino tirando-lhe uma fotografia a distribuir cravos de papel, feitos à mão, no seu local de trabalho, no dia internacional da mulher trabalhadora. <div><br /></div><div>Pelo meio, fiz uma amiga e coisa melhor no mundo não há. Andámos por feiras a distribuir <a href="https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2024/02/nota-panfletaria-pessoal.html" target="_blank">panfletos</a> e a falar com as pessoas, de Lorvão à <a href="https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2024/03/gostamos-da-democracia-que-avanca-pa.html" target="_blank">Espinheira</a>, por debates, comícios e até pedreiras (os custos sociais do capitalismo extrativista sem freios ficaram à vista em Soure, escondidos nos pulmões de tantos trabalhadores e de tantas cidadãs, como relatou um médico de saúde pública, por exemplo).
</div><div><br /></div><div>Fizemos o melhor de que fomos capazes nas nossas circunstâncias de independentes (dependentes, na realidade, não terminamos em nós mesmos). O povo tem de ser soberano. A luta, essa, continua depois de 10 de março. A luta é a única coisa que se pode prever com firmeza.</div><div><br /></div>João Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/08350939898258225737noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-51038318645766039742024-03-08T14:14:00.009+00:002024-03-08T14:17:20.895+00:00Dia internacional da mulher trabalhadora<div class="separator" style="clear: both; font-style: italic; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoghXWWDD5wILg3xOkJfy4-_Nhxf1X8gnC9-hqNgg-DfOufWsAG27LkkYrlDV5LpcBz4itxoAxct6vXoItg36cBPD4QVnINGqjRWSx2cWc1AKLwalYZyGm4k10lXZ_n5T7_Rc1WT_fHjm1tGeeTDOLWildk4nOXoDUK7H5OYw-31cOo0zC6C2g5Y_1KqI/s720/13800653_goreckaa-klara-cetkin-i-roza-luksemburg-140h140.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="717" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoghXWWDD5wILg3xOkJfy4-_Nhxf1X8gnC9-hqNgg-DfOufWsAG27LkkYrlDV5LpcBz4itxoAxct6vXoItg36cBPD4QVnINGqjRWSx2cWc1AKLwalYZyGm4k10lXZ_n5T7_Rc1WT_fHjm1tGeeTDOLWildk4nOXoDUK7H5OYw-31cOo0zC6C2g5Y_1KqI/s320/13800653_goreckaa-klara-cetkin-i-roza-luksemburg-140h140.jpg" width="319" /></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-style: italic;">Clara Zetkin e Rosa Luxemburgo</span></div><br /><div><i>Em articulação com as organizações políticas e sindicais de classe do proletariado dos seus respectivos países, as mulheres socialistas de todos os países devem assinalar anualmente o Dia da Mulher, com o propósito principal de obter o direito de voto. Esta reivindicação deve ser conjugada com a questão da mulher na sua totalidade, de acordo com os preceitos socialistas. O Dia da Mulher deve ter uma natureza internacional e deve ser cuidadosamente preparado. </i><div><br /></div><div>Junto-me à tradição do blogue neste dia, dando a palavra à socialista alemã Luise Zietz. Em 1910, fez a proposta deste dia na conferência das mulheres socialistas da Segunda Internacional, presidida por Clara Zetkin.
Como a <a href="https://www.cgtp.pt" target="_blank">CGTP</a> lembra, é o dia internacional da mulher trabalhadora. As origens socialistas deste dia são claras e não podem ser esquecidas: nenhum direito nos foi dado, todos foram, são e serão conquistados pela luta coletiva.
</div></div><div><br /></div>Vera Ferreira http://www.blogger.com/profile/00607415146945695275noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-24269975388291870942024-03-08T14:08:00.005+00:002024-03-08T14:08:39.749+00:00A crise da habitação no país de Abril<div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1YIUC0Ixb3sFx_efUfijq9EfOaxRQ8xEm_8FOoKMmYZWAf3E44ojAxuT6ApfATYM3zlfsgLMUi4lOO9PHbEDV1xTTAvBXbg8q6oMc0-Hi44e0F7jV1N6o2wToqS_LxpZ8QdUFHiX_O7lVG00W0U6wEZ3RvrsE1ydzy5iwdk4swvTLLtbgkXlWSSdZ3sQ/s1288/Captura%20de%20ecra%CC%83%202024-03-08,%20a%CC%80s%2014.01.49.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="856" data-original-width="1288" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1YIUC0Ixb3sFx_efUfijq9EfOaxRQ8xEm_8FOoKMmYZWAf3E44ojAxuT6ApfATYM3zlfsgLMUi4lOO9PHbEDV1xTTAvBXbg8q6oMc0-Hi44e0F7jV1N6o2wToqS_LxpZ8QdUFHiX_O7lVG00W0U6wEZ3RvrsE1ydzy5iwdk4swvTLLtbgkXlWSSdZ3sQ/w400-h266/Captura%20de%20ecra%CC%83%202024-03-08,%20a%CC%80s%2014.01.49.png" width="400" /></a></div><br />A crise habitacional é o resultado de políticas da habitação equivocadas e de opções de política recentes que privilegiaram o corte desnecessariamente abrupto e acelerado do défice e da despesa pública, que induziram a retracção do investimento público e promoveram, em sua substituição, a especulação imobiliária e o turismo desenfreado. </div><div><br /></div>É sobejamente sabido que em Portugal nunca existiu uma política de habitação capaz de garantir uma oferta pública capaz de resolver as necessidades habitacionais. Optou-se por transferir para as famílias esta responsabilidade. Tal opção foi decisivamente reforçada a partir da década de 1990, quando se enveredou por medidas de apoio ao crédito para a aquisição de casa própria, através da bonificação do crédito bancário e de concessão de benefícios de natureza fiscal. As famílias com maiores recursos puderam, então, aceder à habitação, endividando-se. <br /><div><br /></div><div>A crise financeira e as medidas austeritárias que se seguiram, ao contraírem os salários directos e indirectos e ao precarizarem o trabalho, tornaram insustentável o modelo de acesso à habitação por via do crédito bancário. Porém, a retracção da compra de casa própria não foi acompanhada pela expansão do arrendamento. Ao contrário do prometido, a liberalização do arrendamento, promovido pela então designada Lei Cristas, contribuiu para a retirada maciça de imóveis e a sua reafectação a outros usos bem mais rentáveis, como o alojamento local ou o segmento de mercado de luxo dirigido a uma procura internacional abastada. </div><div><br /></div><div>Esta profunda transformação do sector imobiliário não foi um acontecimento espontâneo. Foi o resultado de medidas deliberadas de política, que incentivaram fortemente um mercado concorrencial ao do sector da habitação. Falamos do segmento voltado para uma procura externa com um poder de compra muito superior ao dos residentes nacionais, por via de benefícios fiscais ou de cidadania. Ao sector do imobiliário foram atribuídos benefícios que não estavam disponíveis para outros sectores de actividade económica, como o regime de renovação urbana, que beneficiou os rendimentos de propriedade, rendas e ganhos de capital, e as isenções concedidas a sociedades e fundos imobiliários. </div><div><br /></div><div>Em suma, os trabalhadores residentes e as empresas de outros ramos de actividade económica acabaram por ser preteridos em favor de cidadãos não residentes com elevado poder económico, que posteriormente abrangeu também os designados trabalhadores digitais, e de um sector imobiliário com uma presença crescente de sociedades e fundos internacionais. Isto significou que as mais-valias realizadas com a escalada dos preços acabam por ser capturadas por cidadãos estrangeiros com elevado poder económico e ao invés de serem reinvestidas no país acabam por ser expatriadas para o estrangeiro, donde vem o capital.</div><div><br /></div><div>O resto do artigo está disponível no <i><a href="https://pt.mondediplo.com/2024/03/a-crise-da-habitacao-no-pais-de-abril.html" target="_blank">Le Monde diplomatique - edição portuguesa</a></i>, em papel ou no site (para assinantes).</div><div><br /></div>Ana Santoshttp://www.blogger.com/profile/15169346896375679053noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-10039356627549230272024-03-08T12:03:00.011+00:002024-03-08T22:07:37.497+00:00Que esperar da privatização em saúde?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpWORY_SLNoOGwUSydRxQsLeY7hAA5uyGFKuEM0SWpnJPhE2-xfpvPGUrzpLc3H2vooIfKvRTTmNkfCZNVJOLQWMg78TxSp17tmGTcci2IkfX0fCRJyKGOPE19RLHurynRofhJ9PAw91jiz2hbZ-UoYQ3Q5g90mMQIQJMd8Z1c7vI0L4Mn4yru2aaKfls/s385/cristina%20sampaio.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="256" data-original-width="385" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpWORY_SLNoOGwUSydRxQsLeY7hAA5uyGFKuEM0SWpnJPhE2-xfpvPGUrzpLc3H2vooIfKvRTTmNkfCZNVJOLQWMg78TxSp17tmGTcci2IkfX0fCRJyKGOPE19RLHurynRofhJ9PAw91jiz2hbZ-UoYQ3Q5g90mMQIQJMd8Z1c7vI0L4Mn4yru2aaKfls/s16000/cristina%20sampaio.jpg" /></a></div>
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A contratualização de respostas de saúde com o setor privado consitui um dos traços comuns dos programas da direita nestas legislativas, da AD ao Chega, passando pela IL. Isto é, a assunção da ideia de que deveremos deixar de ter um Serviço Nacional de Saúde (SNS), transitando para um sistema nacional de saúde, que integre também o setor privado e o setor social, igualmente financiados pelo Estado através da atribuição de «cheques-saúde». Como se, desde logo, a questão do lucro, no caso do setor privado (e em parte do setor social dito não lucrativo), fosse irrelevante.<br />
<br />
A ideia não é nova, ocupando de resto um lugar central no projeto da direita, orientado para a mercadorização dos direitos sociais e correspondente destruição das lógicas de acesso universal e gratuito inerentes aos serviços públicos. Os argumentos invocados, em defesa desta transição - e formulados numa aparente preocupação com as pessoas - são no essencial dois. Por um lado, a ideia de que a concorrência melhora a qualidade dos cuidados e, por outro, que é indiferente quem presta esses cuidados, importando apenas que o Estado assegure o financiamento.<br />
<br />
Só que não. Num <a href="https://www.thelancet.com/journals/lanpub/article/PIIS2468-2667(24)00003-3/fulltext">artigo recente</a>, por exemplo, cujo rigor e prudência merecem ser sublinhados, Benjamim Goodair e Aaron Reeves analisam os efeitos da privatização de cuidados de saúde, considerando um conjunto numeroso de estudos dedicados a esta questão. Uma das conclusões a que chegam de modo mais assertivo é, justamente, a de que «<i>a evidência recolhida não sustenta a tese de que a qualidade melhora com o aumento da concorrência</i>», acrescentando que a análise afetuada reuniu dados que «<i>desafiam as razões invocadas</i>» para apostar no privado, sendo por isso «<i>fraco o suporte científico para uma maior privatização dos serviços de saúde</i>».<br />
<br />
Os autores não ficam, contudo, por aqui. Chegam também à conclusão, entre outras, de que «<i>os hospitais que passaram do estatuto de propriedade pública para privada revelaram tendência para obter lucros mais elevados do que os hospitais públicos, conseguidos sobretudo através da admissão seletiva de pacientes e da redução do número de funcionários</i>», a par da tendência para a obtenção de «<i>piores resultados de saúde pelos utentes</i>». De facto, sugerem os autores, «<i>é mais fácil reduzir custos que incrementar a qualidade do serviço</i>», aludindo ainda a mecanismos de opacidade, que dificultam a adequada monitorização pública da contratualização de respostas.<br />
<br />
Por último, no atual contexto eleitoral, desengane-se quem pensa que o recurso ao privado, para redução das listas de espera, se limitará a um «<a href="https://eco.sapo.pt/2024/01/21/montenegro-promete-plano-de-emergencia-para-acabar-com-listas-de-espera-no-sns/">plano de emergência</a>» de 60 dias, como assegura a AD. Basta recordar o corte de <a href="https://expresso.pt/opiniao/2024-02-19-Montenegro-e-o-corte-das-pensoes-como-rescrever-a-historia-9beffc7a">pensões</a> durante a PAF, inicialmente apresentado como sendo limitado e temporário, mas que não só acabou por ir «além da troika» como só não se tornou permanente porque o Tribunal Constitucional não deixou.<br />
<br />
A privatização da saúde não é um plano circunstancial. É um projeto de <a href="https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2024/03/saude-em-cheque-o-plano-da-direita.html">mudança estrutural</a> desejado e promovido pela direita, sempre que tiver essa oportunidade. E que passa, incontornavelmente, pelo desvio de recursos e de profissionais para o setor privado, acabando por destruir o SNS e o acesso universal e gratuito a cuidados de saúde.<br />
<br />Nuno Serrahttp://www.blogger.com/profile/02673154223996113198noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-76806695974996654632024-03-08T03:51:00.021+00:002024-03-08T09:54:24.807+00:00Prejuízos dos bancos centrais são lucros da banca privadaUm pouco por todo o mundo, a política de <i>quantitative easing</i> (flexibilização quantitativa) inicialmente usada para impedir a falência generalizada do sistema financeiro privado dos EUA, foi depois mantida para combater os efeitos que se sucederam, nomeadamente, a baixa generalizada de preços, ou seja, a deflação e, depois, em 2020, para sustentar uma política orçamental que permitiu <a href="https://www.evernote.com/shard/s83/sh/acf2ddd0-c548-d1d7-411f-584f1a5be2ce/30bdf30e88821ec09655e65399af0fc1" target="_blank">encerrar a economia mundial</a> sem causar uma destruição e miséria que de outro modo seria inevitável.<br />
<br />
De seguida, a partir de Setembro de 2022, aquela política voltou a ser intensivamente usada pelo Banco de Inglaterra para impedir a falência dos fundos privados de pensões do Reino Unido que, em consequência do aumento das taxas de juro, estavam a ser atingidos com enormes ‘<i><a href="https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2022/09/comprar-obrigacoes-do-tesouro-na-escala.html" target="_blank">margin calls</a></i>’.<br />
<br />
Logo a seguir, no outono de 2022, de forma mais encapotada, o <i>quantitative easing</i> foi usado pelo BCE para fazer face à <a href="https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2022/10/momento-aig-iv-as-campainhas-estao-soar.html" target="_blank">volatilidade</a> dos preços da energia.<br />
<br />
E, finalmente, em Março de 2023, a Reserva Federal usou aquela política para impedir que o seu <a href="https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2023/03/diz-que-e-assim-que-funciona-o.html" target="_blank">sistema financeiro</a>, pressionado pela subida da taxa de juro, voltasse a desmoronar-se como um castelo de cartas.<br />
<br />
Em consequência desta política monetária, ao comprarem obrigações, os bancos centrais trocaram um ativo (obrigações ou títulos de dívida pública) por liquidez e, ao fazê-lo, aumentaram a oferta de moeda. Simultaneamente, quando colocaram as obrigações compradas nos seus próprios balanços criaram procura adicional para aqueles ativos financeiros e o seu preço subiu; como o juro das obrigações varia de forma inversa à taxa de juro nestas implícita, os juros baixaram.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjl4jK8KLrsa7O_pqJn8Oq5oeYvWClOsILBRP9h-WZoiyVpHDdTLIBZ9zfBbT6IqQI_9XQ_J8OS3X2jfU_LIjri2nzKyFbYrwT1kEZo4znQC9tzbYdleiQiS05R8Mi0KXZJ9BWog-wwhm0JwjnSTTbgjPVdxAcvu-Gq-MXvKQUs4vaoP01GVNV70jVxWfM" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="408" data-original-width="552" height="296" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjl4jK8KLrsa7O_pqJn8Oq5oeYvWClOsILBRP9h-WZoiyVpHDdTLIBZ9zfBbT6IqQI_9XQ_J8OS3X2jfU_LIjri2nzKyFbYrwT1kEZo4znQC9tzbYdleiQiS05R8Mi0KXZJ9BWog-wwhm0JwjnSTTbgjPVdxAcvu-Gq-MXvKQUs4vaoP01GVNV70jVxWfM=w400-h296" width="400" /></a></div>
<br />
É a esta taxa de juro muito baixa, por vezes negativa, que uma liquidez de cerca de <a href="https://www.evernote.com/shard/s83/sh/fe830603-f562-4b40-8d33-ff442047ef69/MoF5u3k373vtncpZTgCgaww6iofKG9byOaBqyo4Vyq_6kiy0MRgdoqUEVA" target="_blank">5 biliões de euros</a> foi emprestada à componente não governamental do sistema financeiro que opera na zona Euro.<br />
<br />
Em consequência, em Junho passado o total das <a href="http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2023/08/a-politica-monetaria-nao-pode-estar.html" target="_blank">reservas não obrigatórias</a> ao processo de concessão de crédito dos bancos privados atingia os 4,2 biliões de euros.<br />
<br />
Entretanto, <a href="https://x.com/heimbergecon/status/1763157623291969995?s=20" target="_blank">os preços subiram por perturbações no lado da oferta</a>, em consequência dos gargalos logísticos impostos pela pandemia, do <a href="https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2023/03/diagnosticos-e-receitas-alternativas.html" target="_blank">aproveitamento especulativo de empresas</a> com poder de mercado e com a turbulência também especulativa no preço da energia no contexto da guerra Rússia-Ucrânia/EUA/UE.<br />
<br />
Num quadro destes, a maioria dos bancos centrais, mas não o<a href="https://x.com/wbmosler/status/1762417925128880483?s=20" target="_blank"> banco do Japão</a>, decidiu, <a href="https://billmitchell.org/blog/?p=61510" target="_blank">erradamente</a>, como <a href="https://pt.mondediplo.com/2022/01/a-economia-da-idade-das-trevas-esta-de-regresso.html" target="_blank">dizemos</a>, pelo menos, desde Janeiro de 2022, e nunca nos cansámos de <a href="https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2022/10/a-recessao-deliberada-que-podia-e-devia.html" target="_blank">repetir</a>, <a href="https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2022/01/taxa-de-juro-apesar-de-voce-preco-mesmo.html" target="_blank">repetir</a> e de <a href="http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2022/11/subir-taxa-de-juro-e-ma-ideia.html" target="_blank">repetir</a>, combater este tipo de inflação de preços com aquele tipo de políticas que Keynes dizia matarem os pacientes, ou seja, com aumentos da taxa de juro.<br />
<br />
Entretanto, estamos num contexto de superabundância de liquidez, o que baixa o preço de dinheiro - a taxa de juro. Para assegurar a eficácia da sua política monetária, como se diz em jargão banqueiro centralês, os bancos centrais decidiram receber aquela liquidez de volta remunerando estes depósitos de reservas não obrigatórias a uma taxa de juro próxima daquela que tinham como objetivo impor à economia.<br />
<br />
Da última vez que fiz as contas, em Agosto passado, ainda a taxa de remuneração destes depósitos era 3,75% e não os 4% em que se encontra neste momento, assegurar a “eficácia da sua política monetária” estava a custar ao BCE 156,7 mil milhões de euros.<br />
<br />
Uma despesa perfeitamente evitável, como tento explicar <a href="http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2023/08/a-politica-monetaria-nao-pode-estar.html" target="_blank">aqui</a>, que resulta novamente da inação politicamente enviesada do BCE.<br />
<br />
Em resultado de tudo isto, os bancos privados, a <a href="https://www.bloomberg.com/news/articles/2023-02-20/euro-area-braces-for-era-of-central-bank-losses-after-qe-binge?sref=yMyITRj7" target="_blank">receber 4% por dinheiro que lhes custou 0,5%</a> e, sentados em mais de 4 biliões de euros de reservas não obrigatórias, sem necessidade, por isso, de captar depósitos de empresas e famílias, pura e simplesmente não os remuneram. Já as famílias, que viram a prestação da sua <a href="http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2023/09/sem-tugir-nem-mugir.html" target="_blank">hipoteca subir 80%</a> em resultado de uma escusada e errada subida da taxa de juro, não beneficiam desta subida nos seus depósitos.<br />
<br />
Consequentemente, os bancos privados alargaram a sua margem financeira para níveis politicamente ultrajantes, que se não observavam desde 2007, ano em que começaram a explodir por todo o planeta, apresentam crescimentos exponenciais na taxa de retorno do seu capital na ordem dos 56% face ao ano anterior e planeiam distribuir aos seus acionistas <a href="https://www.ft.com/content/04205127-40c7-42bc-b988-1094ce8ddb25" target="_blank">lucros na ordem de 120 mil milhões de euros</a>, praticamente metade do PIB de Portugal, quase tanto, <i>et pour cause</i>, como o chorudo bónus concedido pelo BCE.<br />
<br />
Especificamente em Portugal, os lucros agregados dos quatro maiores bancos privados a operar no país somaram 3.153 milhões de euros em 2023, num <a href="https://rr.sapo.pt/noticia/economia/2024/02/26/quatro-bancos-privados-com-lucros-superiores-a-3-mil-milhoes-de-euros/368430/?utm_medium=rss" target="_blank">aumento de 81,9%</a> face a 2022.<br />
<br />
Razão tem a <a href="https://twitter.com/JPimentaLopes/status/1762751023540506883" target="_blank">esquerda</a> quando defende que estes lucros deviam ser usados para suportar o impacto do aumento na taxa de juro no crédito hipotecário e quando pede a redução da taxa de juro. Mal está a <a href="https://twitter.com/x_coimbra/status/1762805704715280388?s=20" target="_blank">direita</a> económica quando o argumento que usa para discordar é o questionado, à <a href="https://www.evernote.com/shard/s83/client/snv?isnewsnv=true&noteGuid=e838d0fe-8fc6-4c1d-8ba3-60e33d3731e6&noteKey=4O47m6qEK4hJ2BxYJY_WcSBqL2gGZhl294GRPSNAldGmyFualLWGpZP5Ng&sn=https%3A%2F%2Fwww.evernote.com%2Fshard%2Fs83%2Fsh%2Fe838d0fe-8fc6-4c1d-8ba3-60e33d3731e6%2F4O47m6qEK4hJ2BxYJY_WcSBqL2gGZhl294GRPSNAldGmyFualLWGpZP5Ng&title=Volcker%2B2.0%253A%2BInterest%2BRate%2BVolatility%2Band%2Bthe%2BPowell%2BPut" target="_blank">esquerda</a> e à <a href="https://www.evernote.com/shard/s83/client/snv?isnewsnv=true&noteGuid=08be0515-d393-4dcc-9ede-e2bd8f81f4a7&noteKey=R9KZn0bSgN9ulsk_3wH3Q-U-lJGTDELz0ICUKcXOVni0LgFyERNdTXk8Lw&sn=https%3A%2F%2Fwww.evernote.com%2Fshard%2Fs83%2Fsh%2F08be0515-d393-4dcc-9ede-e2bd8f81f4a7%2FR9KZn0bSgN9ulsk_3wH3Q-U-lJGTDELz0ICUKcXOVni0LgFyERNdTXk8Lw&title=Strict%2Binflation%2Btargets%2Bfor%2Bcentral%2Bbanks%2Bhave%2Bcaused%2Beconomic%2Bharm%2B%257C%2BFinancial%2BTimes" target="_blank">direita</a>, <a href="https://www.evernote.com/shard/s83/client/snv?isnewsnv=true&noteGuid=260d4e51-70e0-6a3a-ea95-a0a952973982&noteKey=VKgq6jvkLDkkAfkWcA3MhQhi_rXt72aGZCEf9Ml0lIjYBSeTuyyyXhmojQ&sn=https%3A%2F%2Fwww.evernote.com%2Fshard%2Fs83%2Fsh%2F260d4e51-70e0-6a3a-ea95-a0a952973982%2FVKgq6jvkLDkkAfkWcA3MhQhi_rXt72aGZCEf9Ml0lIjYBSeTuyyyXhmojQ&title=Chartbook%2B%2523185%2BInflation%2Band%2Bdistributional%2Bconflict%2B-%2Bin%2B2023%2Bnot%2B1973%2521%2BAlso%2Ba%2Bresponse%2Bto%2Bthe%2Bdebate%2Baround%2Bthat%25E2%2580%25A6" target="_blank">esboroado</a> e <a href="https://www.theguardian.com/commentisfree/2024/feb/01/the-damning-truth-about-the-uks-2-inflation-target-its-completely-made-up" target="_blank">falido</a> <i><a href="https://www.evernote.com/shard/s83/client/snv?isnewsnv=true&noteGuid=18c80533-e829-b247-e205-4e26bb870759&noteKey=oq1oyKSDSpNFbfny3gHIpp2JCTOgotmS7TIL58IGcxNFF2qZfxlHNqwcCA&sn=https%3A%2F%2Fwww.evernote.com%2Fshard%2Fs83%2Fsh%2F18c80533-e829-b247-e205-4e26bb870759%2Foq1oyKSDSpNFbfny3gHIpp2JCTOgotmS7TIL58IGcxNFF2qZfxlHNqwcCA&title=The%2BPandemic%2BHas%2BEnded%2Bthe%2BMyth%2Bof%2BCentral%2BBank%2BIndependence" target="_blank">status quo</a></i>.<br />
<br />
Toda esta largueza para com a banca privada tem, contudo, potencialmente graves implicações financeiras para o balanço do BCE e dos bancos centrais nacionais que o compõem.<br />
<br />
O <a href="https://www.ecb.europa.eu/press/pr/date/2024/html/ecb.pr240222~2e8045adc3.pt.html" target="_blank">BCE</a> incorreu em perdas de 7,9 mil milhões de euros.<br />
<br />
Expectáveis em todos os países da zona euro, os prejuízos serão particularmente elevados nos países do centro e norte da Europa onde financiar a dívida pública custa menos.<br />
<br />
Os bancos centrais desses países, comprando por instrução do BCE, mas mantendo nos seus balanços, obrigações dos seus países, pagam o mesmo que os países periféricos pelo depósito das reservas não obrigatórias, mas recebem menos de juros obrigacionistas. Nesta situação possuir rating triplo A não trouxe bons resultados.<br />
<br />
Na Alemanha, por exemplo, o <a href="https://www.evernote.com/shard/s83/client/snv?isnewsnv=true&noteGuid=2e2f3342-2cfa-4d58-bfda-931134f61f05&noteKey=TsSUBfZaELe9WwaZLvtRsGsIPjTw7zgfnuqMN0iSsQTs7jjxkgCoNQWDsQ&sn=https%3A%2F%2Fwww.evernote.com%2Fshard%2Fs83%2Fsh%2F2e2f3342-2cfa-4d58-bfda-931134f61f05%2FTsSUBfZaELe9WwaZLvtRsGsIPjTw7zgfnuqMN0iSsQTs7jjxkgCoNQWDsQ&title=Bundesbank%2Bburns%2Bthrough%2Bmore%2Bthan%2B%25E2%2582%25AC20bn%2Bto%2Bcover%2Bhuge%2Blosses" target="_blank">Bundesbank</a> acabou de anunciar prejuízos de 21,6 mil milhões de euros.<br />
<br />
Na <a href="https://www.dnb.nl/en/general-news/dnbulletin-2024/dnb-records-negative-result-of-3-5-billion-in-2023/" target="_blank">Holanda</a> o banco central registou um resultado negativo de quase 3,5 mil milhões de euros.<br />
<br />
Entre outros, o Banco de Portugal ainda não apresentou as contas de 2023, mas os prejuízos para este ano são esperados pela instituição como aqui está <a href="https://www.publico.pt/2023/05/17/economia/noticia/banco-portugal-lucros-297-milhoes-ultimos-proximos-anos-2049977" target="_blank">noticiado</a> e aqui <a href="https://www.bportugal.pt/sites/default/files/anexos/pdf-boletim/reev9n1_p.pdf#page=61" target="_blank">estudado</a> numa abordagem demasiado influenciada por um dos economistas vende pátrias que integra o <a href="https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2024/01/os-dezassete-escolhidos.html" target="_blank">cortejo fúnebre</a> da economia portuguesa, Ricardo Reis, que descura a melhor e mais útil a Portugal posição do<a href="https://www.bis.org/publ/bisbull68.htm"> Banco de Compensações Internacionais</a> (BIS).<br />
<br />
Se nada for mudado nesta enviesada política monetária, o BCE e os bancos centrais nacionais seus constituintes enfrentarão anos de pesadas perdas que acabarão por erodir o seu capital. No entanto, o que é um problema para qualquer outro agente económico não o é necessariamente para um banco central que, beneficiando de um privilégio outorgado pelo seu soberano, <a href="https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2021/11/simplicidade-e-ignorancia-fabricada.html" target="_blank">cria capital pela simples decisão política de o criar</a>, carregando em teclas e preenchendo registos contabilísticos.<br />
<br />
De facto, ao contrário do que decidem relevar <a href="https://www.nber.org/papers/w21173" target="_blank">Robert E. Hall e Ricardo Reis</a>, entre outros, quando afirmam que, em caso de perdas do banco central não compensadas pelo orçamento de Estado, esse banco central pode tornar-se politicamente insolvente, a verdade é que, como afirma o <a href="https://www.bis.org/publ/bisbull68.htm" target="_blank">BIS</a> “perdas e os capitais próprios negativos não afetam diretamente a capacidade de os bancos centrais funcionarem eficazmente” pelo que “em tempos normais e em situações de crise, os bancos centrais devem ser avaliados quanto ao cumprimento dos seus mandatos” e “não em função das suas perdas ou ganhos financeiros”.<br />
<br />
A este respeito, note-se, por exemplo, que a Reserva Federal americana, que <a href="https://www.federalreserve.gov/newsevents/pressreleases/other20240112a.htm" target="_blank">anunciou</a> ter registado em 2023 um prejuízo operacional recorde de cerca de 114 mil milhões de dólares, <a href="https://www.federalreserve.gov/econres/notes/feds-notes/somas-unrealized-loss-what-does-it-mean-20180813.html" target="_blank">regista no seu balanço a perda como um ativo diferido</a> e continua a operar com cobertura estatutária assumindo que “seus ganhos, lucros ou perdas, não afetam a capacidade de cumprir as suas responsabilidades como banco central da nação, que é conduzir a política monetária para atingir os seus objetivos estatutários de máximo emprego e preços estáveis”.<br />
<br />
De modo muito semelhante, o BCE, nos termos do n.º 2 do artigo 33 do seu <a href="https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/?uri=CELEX%3A12016E%2FPRO%2F04" target="_blank">Estatuto</a>, deve assumir que as “<a href="https://www.evernote.com/shard/s83/client/snv?isnewsnv=true&noteGuid=e3cdf92e-d788-42ab-944a-4bafe43aa0fa&noteKey=SKd0k4aNSEUQWwD6W288T-3SgaGMPW2VWZ5dkgKkjSO6WeISxsW8y5b7aw&sn=https%3A%2F%2Fwww.evernote.com%2Fshard%2Fs83%2Fsh%2Fe3cdf92e-d788-42ab-944a-4bafe43aa0fa%2FSKd0k4aNSEUQWwD6W288T-3SgaGMPW2VWZ5dkgKkjSO6WeISxsW8y5b7aw&title=FAQs%2Bon%2Bthe%2BECB%25E2%2580%2599s%2BAnnual%2BAccounts" target="_blank">perdas</a> não cobertas no final do ano são transportadas para o [seu] balanço (...), para serem compensadas com lucros futuros”.<br />
<br />
No entanto, muitíssimo relevante, e ao contrário da Reserva Federal, as regras do Eurosistema criadas pelo ‘<a href="https://www.evernote.com/shard/s83/sh/c26e3d9d-b1c7-39c8-06c4-d02793d9b000/HkPzBqEB61YW9hjGCfFROhYFzHNjHsAmpLcwmeL8m146BujOpH8JsP27WQ" target="_blank">Relatório de Convergência de 2022</a>”, produzido pelo BCE, estipulam também que tal não deve acontecer durante um período alargado: “Por conseguinte, a eventualidade de os fundos próprios líquidos de um BCN [Banco Central Nacional] se tornarem inferiores ao seu capital estatutário, ou mesmo negativos, exigiria que o respetivo Estado-Membro dotasse o BCN de um montante adequado de capital, pelo menos até ao nível do capital estatutário, num prazo razoável, de modo a respeitar o princípio da independência financeira”.<br />
<br />
À luz desta alteração institucional promovida pelo BCE nas costas da opinião pública (quem ouviu falar deste assunto?), alteração esta com implicações orçamentais potencialmente muito graves, compreende-se que em setembro de 2022, o presidente do banco central holandês, Klaas Knot, tivesse <a href="https://www.bloomberg.com/news/articles/2023-02-20/euro-area-braces-for-era-of-central-bank-losses-after-qe-binge?sref=yMyITRj7" target="_blank">alertado</a> o seu governo para "perdas acumuladas que serão consideráveis" nos próximos anos e para que, assim sendo, "num caso extremo, poderá ser <a href="https://www.evernote.com/shard/s83/client/snv?isnewsnv=true&noteGuid=9c56acc7-b033-fb42-213b-cff029f2d7b1&noteKey=MdjGugS9bpInOLHDK5BAUIAD5NeGKBT9z-bg8X6GmiYWyG74XPTJ1UY-3w&sn=https%3A%2F%2Fwww.evernote.com%2Fshard%2Fs83%2Fsh%2F9c56acc7-b033-fb42-213b-cff029f2d7b1%2FMdjGugS9bpInOLHDK5BAUIAD5NeGKBT9z-bg8X6GmiYWyG74XPTJ1UY-3w&title=Carta%2Bacerca%2Bdo%2BBanco%2BCentral%2Bda%2BHolanda%2Bao%2Bseu%2BMinistro%2Bdas%2BFinan%25C3%25A7as%2Bacerca%2Bdo%2Bseu%2Bcapital" target="_blank">necessária uma contribuição de capital</a>" dos contribuintes, afirmou.<br />
<br />
E Centeno? Também falou com o governo de Portugal acerca deste assunto? É de todo lamentável, para dizer o menos, que matérias com implicações potencialmente tão graves na capacidade orçamental do Estado, sejam tratados sem o devido acompanhamento público.<br />
<br />
Nesta fase, instituições como o <a href="https://www.bloomberg.com/news/articles/2023-07-07/europe-s-central-banks-won-t-need-cash-injection-imf-paper-says" target="_blank">FMI</a> têm defendido a ideia de que, por agora, não será necessário recapitalizar os bancos centrais com dinheiro do orçamento de estado.<br />
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Em linha com este parecer, o banco central da <a href="https://www.dnb.nl/en/general-news/press-release-2023/dnb-reaches-agreement-with-dutch-state-on-recovery-of-capital-position-following-losses/" target="_blank">Holanda</a> acabou por anunciar que entrou em ‘acordo’ com o seu governo e que, pese embora, passe a reter lucros futuros para refazer o seu capital, não usará fundos do orçamento de Estado holandês para fazer face às perdas, política que diz pretender reavaliar conjuntamente com o seu Ministério das Finanças em 2028.<br />
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Na <a href="https://www.evernote.com/shard/s83/client/snv?isnewsnv=true&noteGuid=2e2f3342-2cfa-4d58-bfda-931134f61f05&noteKey=TsSUBfZaELe9WwaZLvtRsGsIPjTw7zgfnuqMN0iSsQTs7jjxkgCoNQWDsQ&sn=https%3A%2F%2Fwww.evernote.com%2Fshard%2Fs83%2Fsh%2F2e2f3342-2cfa-4d58-bfda-931134f61f05%2FTsSUBfZaELe9WwaZLvtRsGsIPjTw7zgfnuqMN0iSsQTs7jjxkgCoNQWDsQ&title=Bundesbank%2Bburns%2Bthrough%2Bmore%2Bthan%2B%25E2%2582%25AC20bn%2Bto%2Bcover%2Bhuge%2Blosses" target="_blank">Alemanha</a>, outro dos países cujo banco central mais perdas sofreu no ano passado, o Tribunal de Contas alemão afirmou que o Bundesbank poderia necessitar de um resgate do orçamento de Estado para cobrir os seus prejuízos. Mas o presidente do banco central, Joachim Nagel, disse que planeava contabilizar perdas como lucros futuros, como fez da última vez que teve perdas, na década de 1970.<br />
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Na mesma linha, o <a href="https://www.evernote.com/shard/s83/sh/2e2f3342-2cfa-4d58-bfda-931134f61f05/TsSUBfZaELe9WwaZLvtRsGsIPjTw7zgfnuqMN0iSsQTs7jjxkgCoNQWDsQ" target="_blank">BCE</a> fez saber que espera registar novas perdas depois de esgotar os restantes 6,6 mil milhões de euros de provisões para perdas e encargos que tinha no seu balanço, mas que quaisquer perdas seriam também reportadas contra lucros futuros, evitando qualquer necessidade de recapitalização.<br />
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Assim sendo, fruto desta política desastrosa de aumento da taxa de juros e da enviesada decisão de remunerar com ela todas as reservas excedentárias dos bancos privados, os lucros que eram remetidos pelos bancos centrais aos tesouros nacionais volatilizaram-se, estando os dos próximos anos comprometidos.<br />
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A banca privada lucrou, o orçamento público minguou.<br />
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Mas, ainda mais grave, e sustentada em investigação como a produzida por Ricardo Reis, a ameaça de sobrecarregar os orçamentos de Estado com os montantes perdidos pelos bancos centrais a favor dos bancos privados, continuará a pairar sobre as contas públicas e servirá como mais uma forma de condicionar a política orçamental de <a href="http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2023/06/plena-discricionariedade-ou-do.html" target="_blank">Estados cada vez menos soberanos</a>.<br />
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No <a href="https://www.evernote.com/shard/s83/sh/f69bf3ca-5631-5bb4-1585-e7c890fea964/c4YagF0cU08DvfMk-OMudTI6ECSbGiW8enibJPPherYurJGZCPPwjGK-jw" target="_blank">Reino Unido</a>, já está a ser feito. O governo de direita usa, sem necessitar, o Tesouro para pagar o prejuízo do Banco de Inglaterra e, seguidamente, também usa o resultante défice do orçamento de Estado para afirmar que não há dinheiro e justificar os seus ataques ao Serviço Nacional de Saúde e às demais funções sociais do Estado.<br />
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Suponho que é a isto que o <i>status quo</i> chama <a href="https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2023/03/bancos-centrais-independencia-ou.html" target="_blank">independência dos bancos centrais</a>; no próximo dia 10 é mesmo necessário votar à esquerda e, sobretudo, nos partidos que questionam este estado de coisas.<br />
<br />Paulo Coimbrahttp://www.blogger.com/profile/09830008259099243996noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-44869389726275425112024-03-07T13:57:00.000+00:002024-03-07T13:57:21.158+00:00Explicação e/ou demissão<i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNzV5hSniPJ_ahEltHBITw2S-lhu3vdEvOFoHQuHPG6L2yY4-jrzl16DtQJ-Q25SutEFzEUegk5rqEPj7W76KEbvYueXJrJUDPYjoU1cxNZwKK99fRJn0jBqCtPO3ocINx9NbtWR2LZiUUM3bjaDT47sEaABJ-0Ipyawate3LKC8ztytbcsOl_Asm0Q3A/s860/mw-860.webp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="573" data-original-width="860" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNzV5hSniPJ_ahEltHBITw2S-lhu3vdEvOFoHQuHPG6L2yY4-jrzl16DtQJ-Q25SutEFzEUegk5rqEPj7W76KEbvYueXJrJUDPYjoU1cxNZwKK99fRJn0jBqCtPO3ocINx9NbtWR2LZiUUM3bjaDT47sEaABJ-0Ipyawate3LKC8ztytbcsOl_Asm0Q3A/s320/mw-860.webp" width="320" /></a></div><br />O Ministério Público admitiu não ter indícios de crime nos casos do lítio e do hidrogénio. A Procuradoria-Geral recusa revelar quem ordenou investigação a António Costa, mas todos os caminhos apontam na direção de Lucília Gago. </i><div><br /></div><div>Depois da notícia da <a href="https://visao.pt/atualidade/politica/2024-03-07-casos-do-litio-e-do-hidrogenio-afinal-nao-ha-crime/" target="_blank">Visão</a>, <a href="https://setentaequatro.pt/cronica/o-professor-marcelo-o-escorpiao" target="_blank">Professor Marcelo, o escorpião</a>, tem de dar uma cabal explicação. Ou isso, ou povo tem o direito de exigir a sua demissão.</div><div><br /></div>Paulo Coimbrahttp://www.blogger.com/profile/09830008259099243996noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4018985866499281301.post-4463858616682978202024-03-07T07:33:00.008+00:002024-03-07T08:19:10.645+00:00À mesa do orçamento<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgigXXaTMYygizKB6zjGZt_-1aN68HpfmKpU0KSBNa3m3NHlEv77K1zruV_ntsTLkSrtZvuaqv16h83_cS62zYaJ3XhW0jwBdskj6SG-53o5Uip3rohaSv7KNWQQtxB5BXhcqEfzmTz7kNmA-Q-Ldg92mQa7u2YlGIaCLa4ydZ4Q0hRHO2DE3W_jLnMCO8/s550/jmJCd82lcs2wrTY6iC9R_1082118327.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="368" data-original-width="550" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgigXXaTMYygizKB6zjGZt_-1aN68HpfmKpU0KSBNa3m3NHlEv77K1zruV_ntsTLkSrtZvuaqv16h83_cS62zYaJ3XhW0jwBdskj6SG-53o5Uip3rohaSv7KNWQQtxB5BXhcqEfzmTz7kNmA-Q-Ldg92mQa7u2YlGIaCLa4ydZ4Q0hRHO2DE3W_jLnMCO8/s320/jmJCd82lcs2wrTY6iC9R_1082118327.jpeg" width="320" /></a></div><br />Conhecem a Business Roundtable Portugal (BRP)? Se não conhecem, por um lado, não perdem nada, dada a mediocridade intelectual, mas, por outro lado, a política deste capital é poderosa e conhece-vos bem. <div><br /></div><div>Escrevi sobre esta política aqui há uns tempos para o <i>Le Monde diplomatique – edição portuguesa</i>, num <a href="https://pt.mondediplo.com/2021/09/politica-capital.html" target="_blank">artigo</a> agora acessível a não assinantes, integrado num dossiê – <a href="https://pt.mondediplo.com/direitas-neoliberalismo-contra-abril.html" target="_blank">Direitas: neoliberalismo contra abril</a>. </div><div><br /></div><div>Entretanto, a BRP notabilizou-se por ser a voz das queixinhas dos grandes grupos económicos, os que querem sempre menos impostos e mais Orçamento do Estado: ai que os fundos europeus vão para o Estado e não para as <a href="https://eco.sapo.pt/2023/04/11/business-roundtable-portugal-quer-70-dos-fundos-do-pt2030-alocados-a-empresas/" target="_blank">empresas</a>, queremos 70% e é já. </div><div><br /></div><div>Lê-se e não se acredita, os fundos europeus, que devolvemos à UE com língua de palmo, através de uma economia cada vez mais dependente, não são destinados a cofinanciar as infraestruturas de que as grandes empresas beneficiam? Não lhes dá jeito uma força de trabalho mais formada, formatada e saudável? Não se aproveitam dos resultados científicos gerados em universidades cada vez mais submissas aos seus ditames? </div><div><br /></div><div>E poderia continuar, mas acho que a miopia e o antipatriotismo de um grande capital cada vez mais extrovertido são claros para todos os que não estiverem intoxicados pela ideologia liberal. E andam a financiar os vende-pátrias das direitas cada vez mais extremas, pensam o quê? E o nome está em inglês, por amor de Deus...</div><div><br /></div>João Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/08350939898258225737noreply@blogger.com0